O blog reproduz artigo do jornalista Fernando Nandé, o ‘Zé’Fernando, sobre a morte nesta madruga de um morador de rua, nas imediações da Praça Tiradentes, região central de Curitiba. A primeira morte registrada na gestão do prefeito Rafael Greca (PMN). O articulista entende do que fala, pois foi um sobrevivente do abandono e das agruras da vida nas ruas.
Por Fernando Nandé*
Curitiba registrou uma morte de morador de rua em congelante madrugada. Uma tragédia admitida pelas estatísticas dos burocratas da prefeitura, que culpam o próprio morador de rua de procurá-la, supostamente ao ter se negado a encaminhar-se para um abrigo oferecido pela bondade do prefeito Rafael Greca.
O nome da alma ignorada
Adilson José Juz, 41 anos, morador de rua, morto na Praça Tiradentes, em pleno centro de Curitiba.
Hipócritas
Há nos sobreviventes enorme vontade de viver (sei disso, pois sou um deles). Os que sobrevivem em penúria abandonados nas ruas, preferem lá ficar se o local oferecido em troca não tiver o que eles mais precisam, acolhimento com respeito e perspectiva de mudança de vida. Fora disso, teremos sempre uma caridade pública hipócrita, mais preocupada em responder à opinião pública – não menos hipócrita – do que solucionar em definitivo o problema.
Acolher sempre
Acolher significa devolver a quem se acolhe a esperança.
O frio que mata
Em Curitiba de tudo se morre
Assalto, acidente, bala perdida
Mas, a mais triste morte vem do frio
Dos corações indiferentes.
Marketing da caridade
Caridade que se faz e que se revela é vaidade apenas.
Campo florido de branco
Nesta fria manhã desperto
Com o beijo de uma réstia de Sol
E pela janela vejo o branco campo
Congelado ao pé da Serra
O vento sussurra-me sonatas de Bach
Como se me sussurrasse ao pé do ouvido
Que o importante em cada dia
É o que está nos dias desde todo o sempre
E que desprezamos tolamente.
Patientia, fratres mei!
*Artigo publicado originalmente no seu blog